sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Brasileiros, Japoneses e o Shindô Renmei

Há uma mancha na história dos imigrantes japoneses que vieram para o Brasil, um capítulo que durante muitos anos ficou enterrado na história da imigração.
Ao fim da II Guerra Mundial, uma organização nacionalista ganhou força na colônia japonesa do Brasil- A Shindo Renmei (Liga do Caminho dos Súditos)o  Fundada em Marília, no interior de São Paulo. Com ramificações em outras cidades, a Shindo Renmei era uma organização oficial, influenciada por ex-militares e que tinha o objetivo de lutar contra quem fosse traidor do Imperador e do Japão.
Nessa época a maior parte dos imigrantes japoneses, cerca de 85%, não acreditava e nem aceitava que o Japão havia perdido a guerra, mesmo com as notícias em rádios e na imprensa. Mas como explicar que a grande maioria não acreditasse no que era divulgado?
Bem o Japão nunca havia perdido uma guerra em 2600 anos, além de estar em um período de ocupação da Manchúria na China e parte da Coréia.  Os japoneses que imigraram eram em sua maioria de baixa renda e de pouca instrução.
Além disso, nem sempre a colônia japonesa foi integrada com os brasileiros, os primeiros imigrantes acreditavam que voltariam para o Japão, vitoriosos econômica e politicamente, então não procuravam se socializar com os nativos. Não se interessavam em aprender a língua portuguesa nem adaptar os seus costumes, o que causava certo espanto para os nativos do Brasil. Vale ressaltar que durante a guerra os japoneses não tinham nenhum direito, não podiam ouvir rádio com as notícias que vinham de Tóquio, nem praticar os seus costumes já que os vizinhos denunciavam para os oficiais do exército, etc.
Assim quando o imperador Hirohito declarou não ser um Deus, os integrantes da Shindo Renmei (os kachigumi - vitoriosos) não acreditavam, achavam que tudo não passava de intriga dos países aliados para desmoralizar os japoneses.  A minoria que aceitava e tentava convencer os outros, os chamados Makegumi (Corações Sujos) sofriam ameaças e tinham as paredes da casa pichadas, podendo até mesmo ser executados.
A organização conseguiu difundir suas idéias pelas várias colônias espalhadas por São Paulo, através de falsas informações, falsificando revistas e montando rádios e gráficas clandestinas. Também vendiam a quem pudesse pagar passagens de volta para o Japão prometendo ser repatriada. Por isso alguns acreditam que os fundadores da organização não eram tão íntegros assim e tinha também uma razão econômica.

Dois episódios foram cruciais para o fim da organização, o primeiro aconteceu após uma denúncia anônima de que havia uma festa na colônia de Tupã em comemoração a mais um ano de reinado do imperador, foi então que a Força Pública foi até o local acabar com a festa, o Cabo Edmundo Viera deu voz de prisão e limpou as botas  na bandeira nipônica, foi o suficiente para dias depois estar jurado de morte. O grupo conhecido como Os Sete Samurais foi preso pela polícia de Marília.
Em outro caso, dois japoneses foram assassinados em Tupã o que gerou grande confusão entre os moradores da cidade, que queriam linchar os Tokkotai, os executores da organização. Assim a polícia foi obrigada a intervir e agir a mando do governo.
Em um ano de atentados, de 1946 a 1947, foram 23 vítimas, 150 feridos e muitos que se mudaram com medo das ameaças. Para pegar os responsáveis, a polícia brasileira Ao todo 30 mil  japoneses foram interrogados e 300 foram presos, 80 dirigentes foram deportados, fazendo com que a organização desaparecesse.
Nos dias de hoje muito já foi divulgado, em entrevistas reportagens e um livro do jornalista Fernando Morais intitulado Corações Sujos, retrata essa história de forma bem detalhada, com fotos e documentos da época. Em agosto um filme dirigido por Vicente Amorim, uma adaptação do livro, foi exibido no festival de Montreal e teve boa repercussão, o filme Corações Sujos será lançado oficialmente no Brasil em novembro.

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